Partilha da África
Jaqueline Bevilacqua Zamarchi é graduanda em História pela Unicentro, campus de Coronel Vivida.
Quando pensamos na partilha da África imediatamente nos recordamos da famosa Conferência de Berlim (1884-1885), como se, em nenhum outro momento, a África tivesse sido agredida e continuamente dividida, explorada e desconstruída de todas as formas pelos estados europeus presentes em seu território desde o século XV. Essa conferência a qual tanto reconhecemos e damos importância, foi pensada e elaborada única e exclusivamente por homens europeus que, em sua maioria nunca chegariam a pôr os pés no continente africano e, ainda assim, o "dividiram" em menos de seis horas; esse processo será nosso foco de análise nesse verbete.
A produção bibliográfica sobre a partilha analisa tal processo da perspectiva de uma África já partilhada, como por exemplo, a compilação de livros História Geral da África desenvolvida pela UNESCO que destaca que continente possuía áreas controladas por determinadas nações europeias a partir de seus entrepostos comerciais. A História Geral da África caracteriza-se pela busca de retratar toda a história que deixou de ser feita sobre o continente, mas sem deixar de fazer importantes problematizações como o fato de que foi no processo da Conferência de Berlim que, com o auxílio do darwinismo social se implantou na África a ideia já pré-existente na Europa da existência de raças, abordagem também feita por Leila Leite Hernandez.
Seguindo com a última autora citada que foi uma das fontes utilizadas a partir do capítulo dois de seu livro A África na sala de aula: visita a história contemporânea apresenta a divisão da África partindo do processo de roedura do continente, ou seja, seu declínio e processo de invasão não apenas após a Conferência de Berlim, mas sim, desde o princípio da ocupação do continente, com os exploradores e missionários. Outro autor utilizado foi Roquinaldo Ferreira que discute em um artigo a partilha da África já no período de início do comercio com os portugueses, analisando a disputa territorial na Costa do Ouro entre holandeses e portugueses. Por fim, foi utilizado o livro História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935, editado por Albert Adu Boahen, que apresenta o continente não apenas a partir do ponto de vista eurocêntrico, mas sim do ponto de vista africano, um dos eixos norteadores de toda a coletânea. A análise foi feita tendo como base o capítulo dois, Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral escrito por Godfrey N. Uzoigwe, no qual a partilha é analisada, assim como por Hernandez, da perspectiva de roedura do continente, tanto por vias eurocêntricas como do próprio continente africano. São abordadas diferentes justificativas para o ato assim como uma grande gama de consequências. Tendo todos os autores aqui citados utilizado para legitimar sua escrita, autores já reconhecidos nessa área de estudo.
Por fim, as três obras citadas em conjunto com o presente conceito, podem ser aplicadas em diferentes níveis de formação dos alunos, introduzido no momento em que, já no ensino fundamental, geralmente no 7° ano, é estudado o continente africano e a formação das colônias americanas, apresentando aos alunos como ali já se inicia o processo de roedura do continente. Pode também se fazer presente de forma mais sucinta no 9° ano e mais aprofundada no 3° do ensino médio como esse processo é mais profundo do que é apresentado pelo livro didático. Com as turmas de ensino médio é possível também se fazer uma reflexão conjunta com as matérias de geografia e sociologia sobre como esse processo está relacionado com a emergência de novas teorias raciais e sociais que justificariam essa invasão, além da retomada dos ideais imperialistas no seio da Europa que saia de um período de perda de domínios na América e de conflitos por poder dentro do próprio território.
Refêrencias:
UZOIGWE,Godfrey N.; Partilha europeia e conquista da África: apanhado geral. In: História geral da África, VII: África sob dominação colonial, 1880-1935. editado por Albert Adu Boahen. 2.ed. rev. Brasília: UNESCO, 2010.
HERNANDEZ, Leila Maria Gonçalves Leite. O processo de "roedura" do continente e a conferência de Berlim. In: ___. A África na sala de aula: visita a história contemporânea. 2. ed. rev. São Paulo: Selo Negro, 2008.
FERREIRA Roquinaldo. A primeira partilha da África decadência e ressurgência do comércio português na Costa do Ouro (ca. 1637 - ca. 1700). VARIA HISTORIA, Belo Horizonte, vol. 26, nº 44: p.479-498, jul/dez 2010.